Há dez anos em guerra, o coro dos
anciãos manifesta em frente ao palácio o descontentamento e ansiedade que
grassa em Argos. Qualquer desfecho em Tróia não trará bons augúrios. Ares não
está no seu posto e a cidade está mal governada, nas mãos de corruptos e
malfeitores, como afirma o Vigia no seu testemunho de sofrimento.
1. Agamémnon
Anunciada a vitória, Agamémnon
volta a casa com
a escrava preferida, Cassandra. Recebe-o o coro em silêncio e redobrada
angustia e é Clitemnestra, a adúltera, que, tecendo a teia, faz os elogios
públicos, levando-o a entrar no palácio sobre um tapete de púrpura, digno dos
deuses. Cassandra, a cativa, a ex-amante de Apolo recusa entrar e, possuída
pela maldição do deus, anuncia à Cidade o cheiro a sangue que aquelas paredes
exalam, fruto dos antigos e futuros crimes ali perpetrados. Aumenta o temor, os
rumores adensam-se. Espera-se em Zeus, e um desejo de morte colectiva surge como
solução apaziguadora da angústia. Cassandra discute com o coro e entra decidida
no palácio, para que a sua morte sirva como testemunho para memória futura.
Ouvem-se os gritos lancinantes de Agamémnon a ser barbaramente assassinado pela
esposa que exibe os cadáveres na varanda do palácio. Cumpriu o seu desígnio.
Vingou e está no seu posto. E com Egisto, o estrangeiro, urdidor da trama,
fruem a luz amável do dia portador da justiça! O Coro desorientado com tamanha
desgraça manifesta o desejo de vingança e a esperança em Orestes o filho de
Agamémnon, exilado.
2. Coéforas
Dez anos mais tarde, num tempo de
terror, Orestes regressa a Argos, como estrangeiro, com seu amigo Pílades, na
esperança de vingar a horrenda morte do pai. Clandestinamente visita o túmulo interdito
e abandonado de seu pai e, por um acaso, que só os deuses explicam, encontra no
local um grupo de escravas troianas de Clitemnestra e, entre elas, no meio do
maior sofrimento, sua irmã Electra. Com a irmã e o grupo de escravas traçam o
plano para a morte da mãe e do amante Egisto. Anuncia-lhes o pacto com Apolo e
com Pílades apresentam-se na porta do palácio, quais estrangeiros, em busca de
hospitalidade. São recebidos por Clitemnestra a quem trazem notícias da morte
de Orestes. Entram e como o apoio das escravas, Orestes e Electra vingam a
morte do pai, matando Clitemnestra e Egisto. Exibem os cadáveres à cidade
dizendo: “contemplai os dois tiranos da pátria, assassinos de meu pai e
destruidores desta casa”.
Depois de perpetrado o
matricídio, o remorso apodera-se de Orestes e, como um louco, foge perseguido
pelas Erínias vingadoras de sua mãe.
3. Euménides
Perseguido pelas Erínias,
exausto, ensanguentado e descrente Orestes dirige-se a Delfos ao templo de
Apolo, colocando em questão a sua capacidade para cumprir o acordo com o deus.
Apolo discute com Orestes, obriga-o a cumprir o acordado e, como prova do seu
poder, adormece as Erínias, dando-lhe algum tempo para continuar a viagem até
Atenas, onde deve suplicar o patrocínio da deusa Atena. O espectro de Clitemnestra
vem fustigar as Erínias adormecidas, exigindo vingança sobre o filho. Orestes
chega ao templo de Atena e esta decide levar a questão a tribunal. E um novo
tribunal é constituído. O julgamento do caso Orestes e Clitemnestra,
representados no tribunal por deuses é, curiosamente, feito por homens,
seleccionados e presididos por uma deusa nova (Atena). Sendo as partes do
processo os antigos e novos deuses, o resultado é um empate. Neste caso,
mandava a lei que se favorecesse o réu. Orestes é assim absolvido e as Erínias,
uma vez amansadas, são transformadas em deusas benévolas (Euménides).
Rui
Madeira