quarta-feira, 18 de julho de 2012

Oresteia de Ésquilo

Um Drama Humano com Vinte e Cinco Séculos


A trilogia Oresteia, de Ésquilo, é composta pelas peças Agamémnon, Coéforas e Euménides. Esta obra-prima da literatura grega antiga foi representada em 458 a.C. Para além de ser criador de diversos dramas que vão marcar a História da Literatura Ocidental, Ésquilo participava activamente na produção e nos ensaios, assim como na coordenação da cenografia, na montagem dos cenários, nos adereços, na música e na coreografia. Abarcando o teatro de todos os pontos de vista, participou ele próprio na representação como actor. Estes aspectos reúnem a execução da acção (drama) e a produção de um espectáculo (theatron).

O principal objectivo do dramaturgo era chegar à mente e aos sentidos dos seus espectadores.

Vinte e cinco séculos depois, o autor da trilogia Oresteia chega ao espírito dos leitores, que em tradução do original o admiram, e ao espírito inquieto dos encenadores, sempre atentos à vida contemporânea que gira em torno de si. Os actuais encenadores buscam, muitas vezes, em peças da Antiguidade Clássica motivos e razões que sirvam para reinventar comportamentos da contemporaneidade.

Os temas da tragédia grega eram escolhidos de entre histórias religiosas ou míticas, distantes no tempo do público que a elas assistia. Essa distância nas referências levadas à cena permitia ao espectador ver debatidos assuntos que não o envolviam directamente, mas que lhe permitiam reflectir sobre aspectos universais do género humano. Raros são os casos de tragédias que abordam temas da sua contemporaneidade. Um exemplo raro desse tipo de abordagem encontra-se nos Persas de Ésquilo, peça essa também era tida como a mais antiga de todas as peças gregas.

A história em que se baseia a trilogia Oresteia era o rapto de Helena por Páris, depois de este ter sido acolhido pelo seu marido Menelau. Páris desrespeitou o dever da hospitalidade do seu anfitrião. Como forma de restaurar e castigar essa ofensa ao deus Zeus Xénios, «Zeus protector da hospitalidade» (Agamémnon 60-62, 362-366, 744-749), Agamémnon, irmão de Menelau, reúne uma frota para recuperar Helena e trazê-la de volta à Hélade. Mas os deuses envolvem-se nesse empreendimento e começam a surgir contrariedades que põem em causa o futuro da expedição. Ártemis exige o sacrifício da filha de Agamémnon, Ifigénia, para a armada poder partir. Agamémnon vive um dilema único: sacrificar a sua filha ou faltar aos deveres e às obrigações de um chefe militar (Agamémnon 204-213). A armada parte e Agamémnon, após dez anos intensos de luta, conquista a cidade de Tróia e arrasa-a com excessos.

No seu regresso, Clitemnestra recebe-o no palácio com honras excessivas, que só aos deuses eram devidas. Agamémnon não entende os limites da sua actuação. Depois de entrar no palácio, Clitemnestra assassina o marido com o auxílio de Egisto, seu amante. Esta morte devia ser vingada, como anunciara Cassandra e o Coro anseia (Agamémnon 1667).

Nas Coéforas, a peça seguinte, aparecerá um justiceiro: Orestes, filho de Agamémnon e Clitemnestra, que vingará a morte do pai. Electra enviara o irmão Orestes para o exílio de onde regressará por ordem de Apolo, para castigar os assassinos do pai. Depois de matar Clitemnestra, Orestes é perseguido pelas deusas do remorso, as Erínias. Orestes enlouquece.

Na terceira peça, as Euménides, Orestes, suplicante, encontra-se em Delfos. Apolo promete protegê-lo da acção das Erínias vingadoras. O deus aconselha-o a pedir auxílio à deusa Atena. É acolhido pela deusa e defendido por Apolo contra as Erínias.

A tragédia grega traz para discussão os problemas humanos com os deuses e com o destino, assim como os problemas existentes entre os próprios homens. A tragédia grega mergulha nos conflitos que surgem entre o indivíduo e o poder que ele próprio criou.

                                                                                                              
Ana Lúcia Curado
                                                                                                       Universidade do Minho