A trilogia Oresteia, de
Ésquilo, é composta pelas peças Agamémnon,
Coéforas e Euménides. Esta obra-prima da literatura grega antiga foi
representada em 458 a .C.
Para além de ser criador de diversos dramas que vão marcar a História da
Literatura Ocidental, Ésquilo participava activamente na produção e nos
ensaios, assim como na coordenação da cenografia, na montagem dos cenários, nos
adereços, na música e na coreografia. Abarcando o teatro de todos os pontos de
vista, participou ele próprio na representação como actor. Estes aspectos
reúnem a execução da acção (drama) e
a produção de um espectáculo (theatron).
O principal objectivo do dramaturgo era chegar à mente e aos sentidos dos
seus espectadores.
Vinte e cinco séculos depois, o autor da trilogia Oresteia chega ao espírito dos leitores, que em tradução do
original o admiram, e ao espírito inquieto dos encenadores, sempre atentos à
vida contemporânea que gira em torno de si. Os actuais encenadores buscam,
muitas vezes, em peças da Antiguidade Clássica motivos e razões
que sirvam para reinventar comportamentos da contemporaneidade.
Os temas da tragédia grega eram escolhidos de entre histórias religiosas
ou míticas, distantes no tempo do público que a elas assistia. Essa distância
nas referências levadas à cena permitia ao espectador ver debatidos assuntos
que não o envolviam directamente, mas que lhe permitiam reflectir sobre
aspectos universais do género humano. Raros são os casos de tragédias que
abordam temas da sua contemporaneidade. Um exemplo raro desse tipo de abordagem
encontra-se nos Persas de Ésquilo,
peça essa também era tida como a mais antiga de todas as peças gregas.
A história em que se baseia a trilogia Oresteia era o rapto de Helena por Páris, depois de este ter sido
acolhido pelo seu marido Menelau. Páris desrespeitou o dever da hospitalidade
do seu anfitrião. Como forma de restaurar e castigar essa ofensa ao deus Zeus
Xénios, «Zeus protector da hospitalidade» (Agamémnon
60-62, 362-366, 744-749), Agamémnon, irmão de Menelau, reúne uma frota para
recuperar Helena e trazê-la de volta à Hélade. Mas os deuses envolvem-se nesse
empreendimento e começam a surgir contrariedades que põem em causa o futuro da
expedição. Ártemis exige o sacrifício da filha de Agamémnon, Ifigénia, para a
armada poder partir. Agamémnon vive um dilema único: sacrificar a sua filha ou
faltar aos deveres e às obrigações de um chefe militar (Agamémnon 204-213). A armada parte e Agamémnon, após dez anos
intensos de luta, conquista a cidade de Tróia e arrasa-a com excessos.
No seu regresso, Clitemnestra recebe-o no palácio com honras excessivas,
que só aos deuses eram devidas. Agamémnon não entende os limites da sua
actuação. Depois de entrar no palácio, Clitemnestra assassina o marido com o
auxílio de Egisto, seu amante. Esta morte devia ser vingada, como anunciara
Cassandra e o Coro anseia (Agamémnon
1667).
Nas Coéforas, a peça seguinte,
aparecerá um justiceiro: Orestes, filho de Agamémnon e Clitemnestra, que
vingará a morte do pai. Electra enviara o irmão Orestes para o exílio de onde
regressará por ordem de Apolo, para castigar os assassinos do pai. Depois de
matar Clitemnestra, Orestes é perseguido pelas deusas do remorso, as Erínias.
Orestes enlouquece.
Na terceira peça, as Euménides,
Orestes, suplicante, encontra-se em Delfos. Apolo promete protegê-lo da acção
das Erínias vingadoras. O deus aconselha-o a pedir auxílio à deusa Atena. É
acolhido pela deusa e defendido por Apolo contra as Erínias.
A tragédia grega traz para discussão os problemas humanos com os deuses e
com o destino, assim como os problemas existentes entre os próprios homens. A
tragédia grega mergulha nos conflitos que surgem entre o indivíduo e o poder
que ele próprio criou.
Ana Lúcia Curado
Universidade
do Minho